domingo, 29 de novembro de 2009

Escolha

Enquanto o sol
Não se põe
Mesmo sendo
Quase sete horas da noite.

Enquanto tomo chá
Como pão de queijo
E escrevo.

Posso pensar,
Ousar, sonhar
Decidir.

Posso não fazer nada
Posso ser o que quiser
E posso querer não ser nada.

No entanto,
Em algum momento na vida
Queremos ser alguém
Ou ter significado para alguém.

Espinhos

Desisti de esperar
Que circunstâncias ruins
Desapareçam.

Resolvi viver
Qual rosa
Que desabrocha,
Tem perfume, beleza
E um talo cheio de espinhos.

Desisti de esperar
Que façam
O que é minha responsabilidade.

Compreendi que a vida
Como a rosa tem seus espinhos.

Compreendi que reagir a dor
É entender que rosas são flores
E que algumas flores,
Não têm espinhos.

Último Beijo

Quem garante
Não ser esse
O nosso último beijo?

Quem saberá
O momento do último carinho,
Do último suspiro?

Que importância
Tem o ar que respiro
Ou o ser humano
Que admiro?
Quando gestos e atitudes
São esquecidos?

Quero que meu último beijo
Seja selo da vida solidária.

Quero que meu último beijo
Seja o gesto tranquilo
De quem amou porque viveu.

Seja a gratidão de quem
Compreendeu o significado da vida.

Frases


"Para o homem que sabe ver não há tempo perdido; o que para outros seria tempo ocioso, para ele é tempo de observação."1797-1863 Alfred de Vigny


"A tragédia do homem é o que morre dentro de si enquanto ele ainda está vivo." Albert Schweitzer


"A gentileza não custa nada e mesmo assim compra coisas de valor incalculável." Anônimo


"Para as questões de estilo, nade segundo a correnteza; nas questões de principios, seja sólido como uma rocha"Thomas Jefferson


" A maior recompensa para o trabalho do homem não é o que ele ganha com isso, mas o que ele se torna com isso. John Ruskin


"Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que o silêncio. Provérbio Indiano

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Migrante

Filomena, Raimundo, Nonato
Joaquim, Pedro, Manoel, João
Das Dores, Das Merces, Da Baiana!

Do nordeste, da África, Espanha ou Portugal...

Do asfalto, da ladeira
Do alto, da travessa
Da Conceição.
Do passado e presente
Ao longo do caminho
Da nova concepção do espaço
Da migração, da mutação
Do estilhaço retirado da centralidade
Da função percebida no espaço
Da visão de abrigo concebida para o espaço.

Filomena, Raimundo, Nonato
Joaquim, Pedro, Manoel, João
Dos filhos, netos, bisnetos,trinetos
Brasileiros, cariocas, do Morro da Conceição.

Prainha

Da Prainha mesmo
Ficou o largo e o nome do santo
Francisco da Prainha.
Ponto de encontro
Dos Escravos da Mauá
Ao lado do Santo Cristo.
Saúde.

Ponto de encontro
Do velho e do novo
Da horizontalidade dos sobrados
Das rugosidades,
Das próteses
Que o tombamento histórico
Não conseguiu inibir.

Ponto de Encontro
Do menino estiloso
Que sentado na garrafa pet
Subindo a ladeira
Com bandana vermelha na cabeça
Escorrega na Pedra do Sal.



Obs: Prainha e Migrante, são textos publicados na dissertação de Mestrado do Professor Alex Magalhães cujo tema foi o Morro da Conceição no Centro do Rio de Janeiro.
Os termos rugosidades e horizontalidades, estão associados a geografia, sinalizando modificações em prédios antigos.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Linda


A cidade onde moro
É linda.
Alguns a chamam
Maravilhosa.

Maravilhoso é algo
Excelentemente bom
E quase indizível.
Não consigo vê-la assim,
Para mim ela é linda.

Linda como um filho
É lindo no olhar de seus pais.
Linda porque amada
E vista com ternura.

Com o meu pai,
Aprendi a descobrir a cidade,
Viajar de trem rumo ao Centro,
Rolar na grama no Campo de Santana
Correndo atrás das cutias.

Andar pelas ruas e praias
Descobrindo a sua geografia,
Atravessando os subúrbios rumo á zona sul.
Andar de bonde pelas ladeiras de Santa Teresa.
De barca e aerobarco na Praça Quinze.

Assistir ao pôr-do-sol nas pedras do Arpoador
Ou nos degraus da Praia do Leblon.

A cidade onde moro
É linda.
Linda em seus contrastes,
Linda em suas possibilidades.

Primavera


Um dia
Voltarei à Suiça
E viverei o momento mágico
Do florescer das tulipas,
Do reverdecer das castanheiras.

Um dia
Estarei no momento exato
Em que o longo
E tenebroso inverno
Que resseca e desnuda a plantação
Dará lugar a primavera.
E o sentimento de desolação e abandono
Será apenas uma lembrança.

Sei que a vida como a natureza
Tem o seu ciclo
E vindo a primavera
Só florescerei
Se a Raiz estiver firme,
Fixada em boa terra
Como fruto da boa semente.

Dilema

Queria poder
Guiar os teus passos,
Mas tu decidirás
Como e por onde ir.

Queria não impor
Meu ponto de vista
E abrir espaço
Para buscares o novo.
Mas o novo
Inclui dor e crescimento.

Aflito,
Solto as amarras da paternidade
E permaneço ao teu lado
Rumo ao futuro.

Enquanto Dormes


Velo o teu sono
Com zelo, desvelo.
Penso no futuro
Imagino o desenrolar
De um novelo,
Mas parece uma solução
Para rimar o verso;
Uma rima óbvia
E a vida não é assim.

Velo o teu sono
Com amor e temor
Imagino os teus sonhos
E anseio que a menina
Acorde criança.

Velo o teu sono
Com zelo, desvelo
E imagino a adolescencia
O futuro e o amadurecer
Da mulher que há em ti.

Velo o teu sono
Sonho com valores
E referências
Que gerem em ti
Um ser humano
Digno e feliz.

Quietude

Pensei que a poesia

Exigisse novas palavras

E que a quietude

Um novo

E requintado vocabulário.


Então, respirei fundo

E desfrutei da paz.

Trocadilho

Habito
Por força do hábito
No trocadilho infame
Que acentua a sílaba
E modifica a palavra.

Relato com normalidade
O gesto agressivo,
O condicionamento sociomoral
Que da justiça e da paz
Tem cortado o cordão umbilical.

GENTE

Gosto de gente
Gosto do riso das pessoas
Da gargalhada livre
Do encontro,do reencontro
Da saudade, da amizade.

Gosto de vê-las,
Gosto da maneira como refulgem
Gosto do jeito como se esforçam.

Gosto de gente
Mas tem pessoas
Com as quais antipatizo,
Tem pessoas que me irritam.
São apenas sentimentos contraditórios?

São apenas diferenças inerentes ao espírito humano?
A reflexão é um mergulhar na marginalidade da alma?
Uma espécie de delírio ou loucura consentida?
Amigo, continuo pensando.

IGUALDADE

O ator iniciante confessa

Queria ser muito feio

Ou muito bonito

Odeio ser normal,

Odeio ser igual

Odeio não ter

O padrão globalizado.


É tão triste

Ver talento e profissionalismo

Serem substituídos

Pela beleza de um padrão

De qualidade imposto.

Queria que o critério

Fosse diferente

Queria que o critério

Fosse fruto e consequência do trabalho.

MARGARIDA





Margarida é nome de flor

E nome de mulher.

A Margarida mulher

Era negra e pobre

Ganhou esse nome

Por causa da flor.



Simples e quase analfabeta

Margarida ensinou-me a cozinhar

Quitutera acostumada a trabalhar,

Em casa de gente rica,

Em casa inventava

As receitas mais loucas

supria a falta de ingredientes

Substituindo margarina por óleo

diminuía a quantidade de ovos

Mexia tudo e no final

O cheiro das guloseimas

Invadia o ambiente.



Margarida cuidava de mim

Ajudava-me a crescer

A Margarida mulher feneceu

E hoje é flor no jardim da memória.